MISSÃO MARIANA DE EVANGELIZAÇÃO

Mas não basta conhecer os hinos da base doutrinária ou cantá-los: é preciso estudar o seu sentido, seja o de cada um, seja o do conjunto deles todos, para apreender a verdadeira identidade da missão religiosa estabelecida por mestre Irineu.

E o que o estudo do conjunto dos hinos revela, segundo o que se expressa em seu conteúdo, isto é, nas letras dos hinos?

    Como escrevi em 2007 em carta pessoal a um amigo, lembrando-lhe o que os hinários da base doutrinária cantam, há um só Deus, criador do céu e da terra; este Deus único e verdadeiro, por amor às suas criaturas e querendo mostrar-Se para nos chamar à salvação, fez-Se carne em Jesus Cristo, por meio de Maria Santíssima, por isso chamada por nós de Nossa Senhora da Conceição (ou Concepção); Jesus Cristo, como a Palavra (Verbo) e o Amor (Espírito Santo) do Pai feitos carne em uma pessoa humana, ensinou a doutrina de Deus em sua época; após a morte, ressurreição e ascensão para a vida eterna, Jesus Cristo nos deixou o Espírito Santo para continuar a ensinar a santa doutrina pelos tempos futuros; Espírito Santo de Deus que, sempre que Deus deseja, se manifesta com mais vigor e clareza por meio de determinadas criaturas, como parece ter sido o caso de mestre Irineu, com a intenção de pregar uma vez mais a santa doutrina, agora em nome de Jesus Cristo; santa doutrina que, por ter sido a nós ensinada por Jesus Cristo, é chamada de a doutrina ‘do Redentor’ ou ‘do Salvador’; a qual, por fim, também se chama de ‘doutrina daimista’, pelo fato de se tomar daime nos rituais religiosos.

    Tal complexa sucessão de postulados de fé, se cabe em um manual de catecismo católico ou oriental ortodoxo (exceto, por óbvio, a menção feita a mestre Irineu e ao daime), de acordo com o conteúdo expresso dos hinos da base doutrinária cabe com idêntica propriedade na doutrina daimista, se considerarmos exatamente o que se pregava no tempo em que mestre Irineu esteve à frente da missão religiosa estabelecida por ele.

    Dito de outro jeito, nada houve no que ele pregou que não fosse estritamente cristão e sem sincretismo algum, por mais valor que outras formas de expressão religiosa tivessem ou pudessem vir a ter: o que houve de sincretismo em “centros daimistas” veio depois, por força da adesão a outros princípios de crença, e ao ser estudado e relatado com base em uma dissidência, o "Cefluris", passou a parecer ter existido sempre.

    Mais central, ainda: na missão religiosa estabelecida por mestre Irineu e segundo os hinos dos hinários de sua base, embora isto também não tenha tido destaque na totalidade dos estudos elaborados até 2004, foi a devoção (hiperdulia) a Nossa Senhora da Conceição, a Mãe de Deus, pois por mais de 30 anos continuados os hinos de mestre Irineu cantaram, embora não de modo ininterrupto, ter havido revelações ou aparições da Virgem Maria, com Ela transmitindo orientação e amoroso apoio a ele e ao seu pequenino grupo de seguidores.




Nossa Senhora da Conceição


     Por isso tudo, no livro A Rainha da floresta agrupei em sete, já que era preciso haver algum critério, os princípios teológicos caracterizadores da doutrina daimista, expressos em todo o conjunto de hinos dos hinários de sua base doutrinária:
1.  somente um Deus, onipotente e transcendente;
2.  O Deus único é Trino;
3.  Jesus Cristo é Filho de Deus e Deus em Si;
4.  Nossa Senhora da Conceição é denominada na doutrina daimista Rainha da floresta ou Rainha das flores;
5.  Maria, Mãe de Deus, revelou-se a mestre Irineu com o propósito de reafirmar a doutrina cristã;
6.  Mestre Irineu desenvolveu uma forma peculiar e inovadora de pregar a doutrina cristã [com o uso ritual de daime];
7.  Da prática do que foi nomeado doutrina daimista pode decorrer a salvação.

     Em contrapartida, em hino algum da base doutrinária se encontra, nem por longínqua alusão, princípios teológicos destoantes destes, tais quais seriam múltiplos deuses, imanência de Deus, Jesus Cristo sendo somente um ‘espírito evoluído’ ou a crença panteísta ou animista na existência de espiritualidade em parcelas da natureza (corpos celestes, plantas ou animais), razão pela qual devam ser louvadas.





     Todo o mais foi expressão simbólica na reiteração dos ensinamentos do Evangelho, bem como, e mesmo assim raríssimas vezes, ligeira menção a entes espirituais com perfil característico do entorno sociocultural e ambiental no qual brotou a doutrina daimista, o que nada lhe subtrai da identidade exclusivamente cristã, que unicamente se menciona a existência de tais entes, quase todos com coloração local, e não se verifica adoração ou louvor nenhum senão à Santíssima Trindade – entendida na missão religiosa estabelecida por mestre Irineu como Pai, Filho e Espírito Santo – e a Maria Santíssima, Nossa Senhora da Conceição, por se tratar de missão mariana.

     Para expor isto tudo, neste mesmo livro eu esmiúço cada um dos princípios teológicos listados, exemplificando-os em detalhes com estrofes de hinos dos cinco hinários da base doutrinária, razão pela qual é obra mais focada em Teologia do que o livro O Mensageiro – o replantio daimista da doutrina cristã, no qual principalmente situei no tempo histórico a missão religiosa estabelecida por mestre Irineu e a analisei sob múltiplos e simultâneos pontos de vista: antropológico, histórico, psicológico e sociológico.

     Já, no livro A Verdade, além da doutrina – a busca daimista do Rosto de Deus, busquei situar a missão religiosa estabelecida por mestre Irineu em contextos urbanos contemporâneos maiores, chamando a atenção para as necessárias adaptações litúrgicas e ou ritualísticas que, a meu ver, são convenientes para sua mais adequada expressão.


Neste sentido e quanto a estas adaptações, penso na Carta Encíclica Evangelii Nuntiandi (Ao anunciar o Evangelho), emitida pelo Papa Paulo VI em 08 de dezembro de 1975: a alguns incumbe o cuidado de remodelar com ousadia e com prudência, e numa fidelidade total ao seu conteúdo, os processos, tornando-os o mais possível adaptados e eficazes para comunicar a mensagem evangélica aos homens do nosso tempo.