MESTRE IRINEU, O PREGADOR DE UMA MISSÃO RELIGIOSA ORIGINAL

Em 2004, 2006 e 2008 publiquei em www.juramidam.jor.br os três livros virtuais da Trilogia Juramidam:
1) O Mensageiro – o replantio daimista da doutrina cristã;
2) A Rainha da floresta – a missão daimista de evangelização;
3) A Verdade além da doutrina – a busca daimista do Rosto de Deus),
elaborados para expor o que parece ter sido uma original e extravagante missão religiosa brasileira, mariana e de perfil carismático.










    Ao fazê-lo, apresentei uma obra que, no tocante à identidade da missão religiosa estabelecida por Raimundo Irineu Serra, mestre Irineu, se contrapôs a estudos brasileiros e estrangeiros que até então haviam sido feitos para descrever a popularmente chamada “religião do Santo Daime”.




Mestre Irineu


    Desde 1982 estudiosos – antropólogos, historiadores, psicólogos e sociólogos, mas não cientistas da religião e nem teólogos – haviam se debruçado sobre o “Cefluris”, instituição que se espalhava pelo Brasil (e depois pelo Exterior), em vez de atentar para o que caracterizou a identidade originária da missão religiosa estabelecida por mestre Irineu em 1931 e por ele dirigida até 1971, ano de seu passamento.

    Mas o “Cefluris”, fundado em 1974 por Sebastião Mota de Melo, chamado de "Padrinho Sebastião", embora assumisse os princípios de crença e os rituais originariamente adotados por mestre Irineu, aos poucos inserira princípios de crença e rituais próprios de outras expressões religiosas, como o Candomblé, a pajelança (cabocla e indígena) e a Umbanda, gerando um tipo de sincretismo que, para os estudiosos, pareceu ter sido próprio do que mestre Irineu pregara em sua própria época, embora não tivesse sido.



Sebastião Mota de Melo

    Junto a isso, a expansão do uso de daime em grandes centros urbanos e em diversos tipos de atividade, indo de práticas de xamanismo a sessões de psicoterapia, e passando por atendimento a moradores de rua, meditação e “laboratórios” de dramaturgia, desviou a atenção de qual fora, de fato, a identidade da missão religiosa estabelecida por mestre Irineu e por ele mantida por 40 anos seguidos na cidade de Rio Branco, Estado do Acre, sendo que 30 dos quais na sala de sua própria casa.

    Ademais, os estudiosos haviam optado por privilegiar como fonte de informação os depoimentos orais de habitantes oriundos de Rio Branco e cercanias, em geral contemporâneos de mestre Irineu e cada qual com seu acervo individual de memórias, crenças e interpretações, mas com muitas destas memórias, crenças ou interpretações sendo divergentes ou até contraditórias entre distintas pessoas.

    Para orientar meu estudo, então, mais do que testemunhos orais eu optei por privilegiar fontes em texto, perenes e não variáveis, e por isso mais seguras do que os relatos, por mais confiáveis que fossem as pessoas que relatavam, como dona Percília Matos da Silva, filha adotiva de mestre Irineu e seu braço-direito por quase 30 anos, ou Daniel Serra, sobrinho que viveu com ele do início da juventude até casar-se.



Percília Matos da Silva

    Duas foram as principais fontes que adotei em meu trabalho:
1. o Estatuto do Ciclu – Centro de Iluminação Cristã Luz Universal, que formalizou o “centro” que mestre Irineu dirigira nos 40 anos em que esteve à frente da missão religiosa estabelecida por ele e que foi registrado em um livreto impresso em 1971, documento que até 2004 nunca havia sido antes analisado;
2. os cinco hinários definidos por mestre Irineu como sendo os hinários da base doutrinária – “tronqueira”, como ele mesmo dizia –, isto é, os hinários fundamentais na pregação da missão religiosa estabelecida por ele: o seu próprio hinário (O Cruzeiro Universal) e os de quatro seguidores: Germano Guilherme (Vós sois baliza), João Pereira (Seis de janeiro), Maria Damião (O Mensageiro) e Antônio Gomes (O amor divino).

Estes hinários, que gozam de absoluta unanimidade entre todos que os conhecem, totalizam 316 hinos com letra e um sem letra, permitindo que os específicos princípios de crença que caracterizaram a missão religiosa estabelecida por mestre Irineu possam ser identificados com clareza em meio aos muitos outros hinários que vieram depois, inúmeros deles com princípios de crença desiguais e até incongruentes, quer com os princípios da missão religiosa estabelecida por mestre Irineu, quer, mesmo, entre si.